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28 junho 2012

Mulher Aranha


Num tempo remoto,
Quando não havia mundo
E nada vivo existia
Eu, a Mulher aranha, me lancei no espaço
Eu respirei, cantei, pensei,
E teci um mundo que se formou
Do brilho púrpura, no inicio.
Depois de finalizar este mundo,
Eu o povoei com criaturas,
e criei a primeira mulher e o primeiro homem,
Que então criaram seus ancestrais,
Que então criaram todos vocês neste espaço.
E assim foi.
Na primeira mulher e no primeiro homem
Eu teci um pouco de meu próprio ser...
Uma teia de sabedoria e pensamento,
E a liguei por um fio...
À minha própria teia.

(autor desconhecido) 


 
 Mulher Aranha II

Tal qual aranha, teço
Saio, subo, percorro,
Pendurada em fios, minha alma vejo
Amarrada em voltas
Faço o laço, no abraço
Nos entremeios de mim,
No lampejo
Em todos os fios de minha vida, percorro
Destruo, descarto, enrosco
Desfazendo o feito.
Lanço jogo e crio
Nas teias do meu caminho
Teço o fio
Teço a trama
Sem drama
Me enredo, e amanheço
Nos meus pés, sinto a seda,
Nos enlaces,
Nos lençóis,
No arremesso.

Fonte: http://mreginas.blogspot.com.br/2009/04/mulher-aranha.html

17 março 2011

Teia de Palavras


“Uma aranha fez sua teia num canto do meu escritório. Eu a descobri ontem e, com a minha vassoura, tratei de me livrar dela. Teias de aranha são sinais de descaso e eu não queria que aqueles que me visitam pensassem mal de mim. Mas hoje ela está no mesmo lugar. Durante a noite refez sua teia. Acho que ela gostou do lugar, me perdoou e confia na minha compreensão. Compreende. E decidi que ela vai ser minha companheira.

Embora ela não saiba falar, ela me fez pensar. Confesso que a aranha me fascinou. Primeiro por aquilo que vejo. Lá está ela segura e feliz, pendurada sobre o vazio. Não existe hesitação alguma nos seus passos. Suas longas pernas se movem sobre os finos fios de sua teia com tranqüila precisão, como se fossem dedos de um violinista, dançando sobre as cordas. Sua teia é coisa frágil, feita com fios quase invisíveis. E, no entanto, é perfeita, simétrica, bela, perfeitamente adequada ao seu propósito. Mas o fascínio tem a ver com aquilo que não vejo e só posso imaginar. Imagino aquela criaturinha quase invisível suas patas coladas à parede. Ela vê as outras paredes, tão distantes, e mede os espaços vazios. E só pode contar com uma coisa para o trabalho incrível que está para ser iniciado: um fio, ainda escondido dentro de seu corpo. E, então repentinamente, um salto sobre o abismo, e um universo começa a ser criado...

Em outros tempos acho que fui um bom professor. Como a aranha eu sabia tecer a minha teia de palavras. Eu sabia o que ensinava e só ensinava o que sabia... Bons professores, como a aranha, sabem que lições, estas teias de palavras, não podem ser tecidas no vazio. Elas precisam de fundamentos. Os fios, por finos e leves que sejam, têm de estar amarrados a coisas sólidas: árvores, paredes, caibros. Se as amarras são cortadas a teia é soprada pelo vento, e a aranha perde a casa...”

Autor: Rubem Alves, em seu livro: O POETA, O GUERREIRO, O PROFETA. (Ed. Vozes,1995. P. 10)


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