Ah,
que saudade daquela minha professora!
Tinha momento que achava que era fada, em outro era a minha bruxinha
preferida. Não conseguíamos ficar muito tempo zangados com ela.
Quando
a conheci ela não tinha mais que vinte anos e foi amor à primeira vista. Eu
detestava leitura, mas com ela não tinha essa de não gostar. Porque para não
gostar tinha que conhecer… Não se gosta do desconhecido. Então ela ensinava a
gente a mergulhar, penetrar nas leituras, depois que estávamos todos
envolvidos, já nem sabíamos de que mesmo não gostávamos.
A
minha professora era uma eterna sonhadora. Quando se irritava com as agruras da
educação, dizia que jamais desistia de seu barquinho de sonhos. Para ela, todos
nós devemos ter um barquinho. E nós como condutores temos a obrigação de
remá-lo na direção que conduz a ética, ao respeito, a satisfação pessoal… Mesmo
com ventos desfavoráveis.
Às
vezes algum colega para aborrecê-la indagava: “Se o barco afundar?” A
professora sorria e dizia que era impossível afundar um barco de sonhos. Porque
os sonhos não morrem e devem ser compartilhados. Igual a educação, ninguém se
educa sozinho, mas na troca mútua. Sonhos são renováveis.

Hoje,
dia do professor, tantos anos depois em um cruzamento qualquer, encontro com a
minha professorinha. Percebo algumas
rugas, mas continuava com o sorriso sereno. Abraça-me efusivamente. Tocamos
afagos e digo-lhe:
_
Minha professora, consegui construir o meu barquinho… Cada dia ele continua
mais pesado, são tantos sonhos… E a senhora, como está o seu barquinho? Agora
com o tempo está mais leve, não?
_
Não! Abandonei o meu barquinho e…
_Não
pode ser professora! Seu barquinho dos sonhos não pode ser abandonado! Como
fica a educação sem sonhos? A senhora que nos ensinou a sonhar… Não pode! Não
pode! Eu posso ajudá-la a recuperar, sonharemos juntas…
_
Minha querida, meu barquinho está à deriva por que…
_
Não é possível! Não pode desistir! Minha professora… Todos podem jogar a
toalha, mas o professor não pode. Se o professor desistir, qual será o futuro
da nação?
E
pegando em meus braços com firmeza, minha professorinha, minha mestra, olha-me
emocionada, percebi as lágrimas escorrendo e, falou-me quase sussurrando:
_
Obrigada por ter aprendido a lição! Eu também jamais desistirei dos meus
sonhos! O barquinho ficou à deriva porque os transportei para um navio…
Abraçamo-nos
e nos emocionamos pelos nossos sonhos.